Comecei
a ler em 2017 o livro “José Martí”, de Ricardo Nassif, com tradução e
organização de José Eduardo de Oliveira Santos, mentores: José de La Luz e
Caballero e Rafael Maria Mendive, da Fundação Joaquim Nabuco, Editora
Massangana, 2010. Li 42 páginas da obra.
Para
entender e compreender a Revolução Cubana é imprescindível conhecer a vida de
José Martí, nascido no ano de 1853 e falecido em 1895. Logo de início, sou
surpreendido com uma citação profundamente humana. “Sentar-se para produzir
livros, que é coisa fácil, é impossível quando se é consumido pela intranquilidade
e ansiedade e não há tempo para a tarefa mais difícil de todas, que é produzir
homens” (Martí, 1953, VI, p. 854).
Martí
começa sua escolarização em uma escola distrital de Havana, em Cuba. Aos 10
anos, seus pais o levaram para outra escola de melhor nível. Estudou Inglês e
Contabilidade. A pobreza de sua família faz com que, muito cedo, seu pai
decidisse que “ele já sabia o suficiente” e o levasse consigo para trabalhar no
campo. José Martí iria aprender aí a conciliação entre trabalho manual e o
trabalho intelectual.
Vai
para a Escola Secundária para Meninos em Havana, no ano de 1865. Na Espanha,
inicia os estudos universitários. Na capital Madrid, cursa Direito, Filosofia e
Letras. Lutava pela independência de Cuba. Aos 16 anos, foi preso pela primeira
vez. Foi preso, depois, uma segunda vez.
Com
apenas 18 anos de idade, ou possivelmente antes, José Martí dava aula particular
para sobreviver. Em Zaragoza, interior espanhol, é diplomado em Direito Civil e
Canônico e em Filosofia e Letras. Aventura-se seriamente por Paris, na França,
Inglaterra e México. Era 1875, o ano do romantismo e do positivismo.
Na
Guatemala, é professor licenciado de Literatura e Composição na Escola Normal
Central. Leciona literatura alemã, francesa,inglesa e italiana. Em setembro de
1878, vai para La Habana, Colégio Hernández e Placencia. Trabalhava em um
escritório de advocacia. Tem a permissão de ensino revogada e migra para a
atividade jurídica.
Engaja-se
como teórico da educação na Espanha, em Paris (França), em Nova Iorque (Estados
Unidos em 1881) e na Venezuela (1881). Possui um programa completo de educação
popular. Trabalha a Idade do Ouro, uma publicação mensal para entretenimento e
instrução das crianças da América, na cidade nova-iorquina. Já lutava pela
independência cubana em 1889. Aqui no Brasil era proclamada a República. Tinha
três bons exemplos de vida: San Martin, Símon Bolívar e Hidalgo.
A
Idade do Ouro (hoje a formação principal da criança se dá do zero aos seis
anos, primeira infância) se objetivava na aprendizagem de meninos e meninas americanos
para que eles soubessem como as pessoas costumavam viver e como elas vivem
atualmente na América e em outros países; de que modo muitas coisas são feitas
como o vidro e o ferro, máquinas a vapor, pontes suspensas e luz elétrica; para
que quando uma criança vir uma pedra colorida saiba porque a pedra tem cores.
Falaremos de todas as coisas que são feitas nas fábricas, onde acontecem coisas
mais raras e interessantes que nos contos de magia e são magia de verdade, mais
linda que a outra (...). Trabalhamos para as crianças porque são elas que sabem
amar, porque são a esperança do mundo (II, 1207-8).
O
livro foi proibido de circular em 1889. Ensinava crianças humildes. José Martí
era assíduo na Liga da Instrução de Nova Iorque e professor de Espanhol na
Escola Secundária de Cuba. Não renunciou a seu combate pela liberdade de Cuba.
De 1890 a 1895, viveu o maior período de agitação social da história da sua
vida. Em 31 de janeiro de 1895, saiu de Nova Iorque para lutar na Batalha de
Boca de Dois Rios pela sua pátria cubana. Morreu em 19 de maio de 1895. Para
ele, a morte era um ato criativo e voluntário. Como um homem bom, com meu rosto
ao sol, deixo o meu exemplo baseado nos meus antecessores, costumava dizer.
José
Martí tinha em toda a América como sua sala de aula, o seu magistério dos
libertadores dos povos. Foi um homem de ação obscurecido pelo homem de pensamento.
Sua educação e vida traduzia uma pedagogia de seres humanos originais e
históricos. Caberia perguntar sob qual identidade de cultura se assenta a
proposição de um novo homem? Quais elementos propiciariam alguma unidade à “raça”
mestiça americana? O bloco geográfico? O bloco cultural? O espírito dos povos? Sua
história, cultura, constituição mestiça, sua constituição de novidade
institucional?
Para
o pensador cubano, a América, a Nossa América, só pode ser a América indígena,
a do negro, a mestiça, a crioula, a América do século XVI, a América Ibérica. “Como
ter como modelo uma sociedade que coloca o pragmatismo e as razões de mercado
acima de tudo?”, pergunta Eugênio Rezende de Carvalho baseado na obra de José
Martí.
“Nossa
vida não se assemelha à sua. A sensibilidade entre nós é muito veemente. A
inteligência é menos positiva, os costumes são mais puros. Como, com leis
iguais, iremos reger povos diferentes? As leis americanas deram ao Norte alto
grau de prosperidade e o elevaram também ao mais alto grau de corrupção (...)
Maldita seja a prosperidade a todo custo!”, criticava José Martí.
José
Martí se referia à América Latina como América, Nossa América e Madre América.
Jamais América Latina. Para ele, o homem natural era o homem da terra,
enraizado na produção. “É criminoso o divórcio entre a educação que se recebe em
uma época e a época”, pensava o cubano. “A educação há de ir aonde vai a vida (...)
há de dar os meios de resolver os problemas que a vida vai apresentar”, filosofava.
Quando há muitos problemas, a educação torna-se um caos. A realidade da América
Latina inspirou o argentino Carlos Calvo e o colombiano José Maria Torres
Caicedo.
José
Martín não tinha preconceitos. Sua concepção não é xenófoba, pois eram poucos
os que, como ele, acreditavam na solidariedade entre os povos. Tampouco
arbitrária porque o próprio desenvolvimento natural do homem é condicionado
pela atmosfera existente em uma sociedade particular, já que “o fim da educação
não é formar um homem nulo, pelo desdém ou pela impossibilidade de se adaptar
ao país em que há de viver, e sim prepará-lo para lá viver uma vida boa e útil”
(I, 864), isto é, formar pessoas de acordo com o ideal que Martí reclama para a
América: “homens bons, úteis e livres” (I, 866).
“Mas
como formar homens virtuosos, se não pelo amor?”, página 18. Como fazê-los
livres, se não permitindo que vivam em liberdade? Como concebê-los úteis sem o
conhecimento científico da natureza?, ainda na página 18. Qual é o conceito de
útil?
Educação
é o estudo que o homem aplica para guiar as próprias forças, dizia José Martí. De
todos os problemas hoje considerados capitais, de fato apenas um o é, e de tal
importância que todo tempo e zelo pouco fariam para conjurá-lo: a ignorância
das classes que têm a justiça a seu lado.
A
educação popular tem a característica da democracia liberal na América Latina na
segunda metade do século XIX. Educação popular não quer dizer exclusivamente
educação de classe pobre, e sim que todas as classes da Nação, que é o mesmo
que povo, devem ser bem educadas. Educação popular é o único meio de se chegar
à democracia? Não! A educação oficial favorece a democracia.
É
necessário incutir na consciência das pessoas o valor do trabalho manual. É
preciso elevar a mulher à condição de força espiritualizadora da sociedade contemporânea
por meio da educação. Temos o exemplo da escola mexicana de surdos-mudos. Herda-se
do positivismo a imoral negação da existência melhorável e permanente. Urge
então intensificar a prática-teórica das escolas do abecedário para as escolas
do fazer.
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