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Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

Fatos

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segunda-feira, 11 de setembro de 2017

A luta que nos aproxima

Isaías não diz que, no futuro, os pobres da terra viverão em harmonia com os homens impetuosos. Pelo contrário, a boca do profeta anuncia a justiça de Deus que sacia a fome dos pobres e faz morrer o ímpio. Não há conciliação possível entre opressores e oprimidos. O amor, porém, une os que colocam suas vidas na mesma direção. Do lado de dentro dessas grades, encontram-se comunistas e cristãos. O que há de comum entre nós? O mesmo amor à libertação do nosso povo. Não foi em torno de bancas universitárias, dispostos a discutir questões teóricas, que nos encontramos. Foi a luta que nos aproximou,  traçando a linha divisória entre os que defendem os interesses da burguesia e os que assumem as aspirações do proletariado.

Deste lado, ficaram vocês e ficamos nós. No entanto, cristãos e marxistas sempre foram considerados pólos antagônicos. Não haveria entre nós mais coisas em comum do que a luta pela justiça? Temos as mesmas raízes judaicas - Cristo e Marx eram judeus, tributários da historicidade de seu povo. Para o Marxismo, houve, no início dos tempos, uma sociedade comunista primitiva, na qual reinava a harmonia entre os homens. Para o Cristianismo, houve, no início dos tempos, um paraíso, no qual reinava pela harmonia entre os homens, a natureza e o Criador. Ao escolher-se em detrimento de seu próximo, o homem quebrou, pelo pecado original, a unidade genuína.

Ao apropriar-se do que era comum, um grupo cindiu, pela acumulação primitiva, a sociedade em classes antagônicas. Segundo o Marxismo, essa igualdade primordial só será recuperada na futura sociedade comunista, enquanto o Cristianismo vislumbra a restauração da unidade paradisíaca no Reino de Deus, onde “Deus mesmo estará com seu povo” (Apoc. 21, 3). É através da história, configurada em sucessivos modos de produção, que se criam condições de passagem do reino da necessidade para o reino da liberdade.

Na história e pela história, Deus se revela a seu povo e o convoca a construir o futuro de justiça e de liberdade. O sujeito da história, na ótica de Marx, é o oprimido, a classe mais espoliada ou - para usar uma analogia -, a mais crucificada pelo sistema capitalista. Na revelação cristã, é o Crucificado quem liberta e salva. Aquele que foi mais esmagado é o mais exaltado. Todo joelho se dobra a seu nome. No entanto, o pecado impede o ser humano de realizar plenamente os desígnios de Deus.

Presente nas estruturas e nas instituições, o pecado desvia o processo histórico de seu rumo libertador, e deita raízes no coração do homem, alienando-o. Do mesmo modo, para Marx, a alienação cria o descompasso entre a nossa existência e a nossa essência. Não vivemos o que somos e nem podemos ser o que gostaríamos de viver. Para nós cristãos, essa adequação entre a essência e a existência é a Santidade. Sabemos pela fé certas coisas que vocês buscam pela análise dialética.

A fé nos dá a radiografia do momento histórico, mas sim o sentido último e absoluto da história: o antagonismo de classe será suprimido e todos viverão como irmãos em torno do mesmo Pai. Haverá igual partilha da comida e da bebida, como aqui na Mesa Eucarística. Essa dimensão transcendente a Teoria Marxista não alcança. Todavia, o mais importante, hoje, entre nós é amarmos os oprimidos. No dia da ressurreição, Ele dirá aos que não tiveram fé: tive fome e me destes de comer... tive sede e me destes de beber...”. Vocês indagarão: “quando foi, Senhor, que o vimos com fome?...  com sede?...” E o Rei lhes responderá: “O que fizestes a um desses pequeninos foi a mim mesmo que o fizestes”.


Texto e informações retirados do livro “Batismo de Sangue: os dominicanos e a morte de Carlos Marighella”, de autoria de Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, Editora Civilização Brasileira, 4ª Edição, 1982, páginas 213 e 214

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