1) Matéria
sobre Rádio Comunitária Cidadania 103,5 FM (21/02/2005)
Irmão jesuíta João Luiz de Castro
História da rádio
“A rádio começou em 1996 quando
estava no auge a luta pelo direito à comunicação. Hoje, a gente batalha com
várias pessoas. Chegamos a ter em torno de 70 pessoas envolvidas na rádio.
Ainda temos esperança de que o governo brasileiro, que tem grande sensibilidade
social, não se furtará ao direito do povo de Montes Claros ter verdadeiramente
cidadania, que é o direito à comunicação. Já participamos de vários encontros e
congressos tanto em nível nacional quanto internacional. Eu cheguei a ir a
Cuba, na República Dominicana, na Venezuela, na Bolívia e participei de
encontros relativos ao tema da comunicação. E toda essa experiência foi trazida
para dentro de Montes Claros e com certeza colocada na Cidadania como uma forma
de estar potencializando e capacitando os jovens, sobretudo, as comunidades
para que elas possam exercitar os seus direitos. A gente vê o Ministério da
Saúde distribuindo milhões e milhões de camisinhas e nós não vemos o Ministério
das Comunicações tendo uma ação sequer para distribuir, por exemplo, microfone
para que o povo possa comunicar. Nós vemos tanta violência dentro da cidade,
nas escolas, e nós não vemos nenhuma ação positiva e nem propositiva que viesse
a integrar as pessoas e as entidades. E é essa a nossa proposta com a nossa
‘Cidadania’ de estar integrando os jovens, estar potencializando, estar
capacitando essas pessoas para que elas possam aprender ensinando e ensinar
aprendendo. E isso não está longe. A nossa realidade é esta hoje que vocês
estão vendo. Nós já chegamos a preparar tudo e temos tudo preparado. Temos
instrumentos e pessoas com vontade. Temos recursos. Ganhamos projetos de fora.
No entanto, a gente vê a dificuldade por parte do Governo que tem feito, por
exemplo, essa questão do Fome Zero, tem ajudado com o Bolsa Família, mas nós
queremos mais que o Bolsa Família e mais que o Fome Zero, nós estamos querendo
o direito de trabalhar, de poder ganhar com o nosso próprio suor.”
O motivo da
escolha vinheta
“Rádio
Cidadania: Ação Pela Vida! Gente É Pra Brilhar!”
“A escolha diz
muito. ‘Creio na criação, na intenção, no gesto e no beijo’. Então, nós cremos
na intenção das pessoas, nós cremos nos gestos, porque quando se fala ‘Ação
Pela Vida! Gente É Pra Brilhar’, é isso que nós vemos. Como é triste você vê,
por exemplo, um pai de família ter vergonha de chegar diante de um microfone e
falar... Como é triste você vê um jovem com seus 18, 20 anos e às vezes até universitário
ter vergonha de expor o pensamento seu. E o rádio tem essa capacidade. Os
jesuítas, na América Latina inteira, têm 14 países onde eles trabalham com a
educação via radiofônica. Essa é a nossa proposta. Esse é o nosso desejo. Esse
é o nosso objetivo. Trabalhar com a educação através do rádio. Só para ter uma
idéia, na Venezuela, tem mais de 100 mil alunos que estão instruídos via rádio.
Na República Dominicana, tem 70 mil alunos, e eu conheci esse projeto.
Infelizmente, em nosso país, o rádio não tem sido usado para educar as pessoas,
para formar as pessoas e os meios de comunicação acabam sendo usados tão
somente para ganhar dinheiro. E isso é lamentável.”
O que significa
ser uma rádio comunitária?
“Uma rádio
comunitária tem que se envolver necessariamente com a comunidade. Não tem que
ter vergonha da comunidade. A comunidade é chamada a ter voz e vez em tudo,
inclusive no microfone, na administração, na sustentação da rádio, na grade de
programação. E nós fizemos isso. Nós chegamos a ter 70 pessoas envolvidas,
chegamos a ter programas evangélicos na rádio, mas, infelizmente, hoje, nós não
temos essas coisas dada a situação em que nos encontramos atualmente. Nós
conhecemos perfeitamente a situação das rádios. Em Belo Horizonte ,
existem duas rádios que estão no mesmo raio de abrangência e, no entanto, nada
se faz. Agora, é preciso que haja boa vontade do Governo e aqui fica o desafio.
Fica o desafio para o Governo. O Governo Lula disse que jamais vai incriminar
os movimentos sociais. Nós queremos que o Governo nos chame e venha sentar
conosco, conversar para a solução, a decisão partir da base e não de cima para
baixo. Nós queremos até lançar esse desafio não só para o Governo, mas também
para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Que o pessoal venha,
converse com a comunidade e demonstre que realmente valoriza o povo brasileiro.
Não vamos esperar chegar a uma situação como a que chegou a Irmã Dorathy,
aquela Irmã que foi assassinada lá no Pará defendendo a vida, defendendo a
terra, defendendo o povo brasileiro.”
A Rádio
Comunitária desenvolve algum projeto em parceria com alguma entidade?
“Sim. Nós temos
projetos com entidade de fora, que nos apoiou. Nós já gastamos mais de R$ 150
mil com esta rádio. O que você está vendo aqui não é nada diante do que nós
temos, por causa do trabalho sério que nós desenvolvemos. Nós tivemos um
trabalho no Santa Rafaela, que depois vocês terão possibilidade de ver, levando
os jovens a fazerem um programa de arrecadação de material escolar. Nós fizemos
esse trabalho envolvendo muitos jovens, inclusive jovens que não nos ouviam
quando a gente ia lá falar, eles tiveram a oportunidade de participar junto com
os outros jovens. E a Rádio transmitida ao vivo. Nós tivemos a oportunidade de
ajudar, por exemplo, na retirada da Esso do Bairro São Judas. Foi um trabalho
que a Rádio ‘Cidadania’ fez. Nós tivemos a oportunidade lá no Bairro Santa
Luzia, na Ponte Branca, melhor dizendo, Comunidade Santa Luzia, de fazer um
trabalho de ajudar um jovem que está lá a se aposentar. Foi todo um trabalho
que a Rádio fez. Nós não ficamos divulgando por aí até porque a rádio não quer
ser assistencialista, paternalista. Mas a rádio estar muito mais para promover
a integração da comunidade do que o assistencialismo. E nós temos feito vários
trabalhos. Criamos a Escolinha da Cidadania lá na Comunidade Santa Luzia,
Bairro Ponte Branca. Nós damos ajuda ao pessoal lá da Ponte Branca que está
acampado lá da Cidade de Deus, arrecadando alimentos, levamos mais de 500 kg de alimentos pra lá.
São coisas que nós não ficamos divulgando por aí. Uma coisa que eu quero deixar
muito claro. O artigo 13 da Declaração Inter-Americana dos Direitos Humanos é
muito taxativo quando fala que o Governo não poder criar lei que impeça a
comunidade exercer o seu direito de antena, o seu direito de comunicar e esse
tipo de coisa não tem sido respeitada pelo Governo Brasileiro. O artigo 19 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos também é claro quando fala do direito
à comunicação. E, como se isso não bastasse, temos o artigo 5º da Constituição
Federal. E temos a lei municipal que, infelizmente, a legislatura passada tanto
da Prefeitura quanto da Câmara não foi capaz de honrar a lei que foi feita, que
é a lei municipal de radiodifusão, desobedecendo ao artigo 30 da Constituição,
que diz que é da competência do município legislar em questões de interesses
locais. E, infelizmente, isso não tem sido feito. Nós temos divulgado que a
comunicação está para a comunidade assim como o sangue está para o nosso corpo.
Tirar esse direito nosso é o mesmo que nos tirar a vida. E isso é bom que fique
bem claro.”
E quanto à
parceria com os portugueses?
“Existe um grupo de
portugueses que estão aqui em nossa área e estamos formando uma parceria com
eles. Já tem formada na Comunidade Santa Rafaela uma biblioteca, estamos
fazendo trabalho com hortas comunitárias e os portugueses estão vindo passar
durante três anos. São três pessoas que inclusive querem fazer trabalho de
geração de renda. É um grupo Movimento em Favor da Vida lá de Portugal que
todos os anos, já são quatro anos que eles vêm, e agora eles vieram de novo, e
estão procurando aí um local onde eles possam desenvolver esse trabalho,
favorecendo, valorizando as pessoas, sobretudo, os jovens da periferia. E isso
é um trabalho que já está em andamento e a gente fica muito agradecido, em
primeiro lugar, a Deus, em segundo lugar, ao povo de Montes Claros, que tem
sido muito receptivo, muito acolhedor. O povo tem se demonstrado muito generoso
e a gente agradece muito a Deus por essa qualidade do povo montes-clarense e do
povo norte-mineiro.”
Socorro Isabel
Félix, líder comunitária
“A ‘Cidadania’ tem
trazido para nós muitos esclarecimentos, porque realmente a gente vive assim
sem oportunidades, sem oportunidade de dialogar alguma coisa, as necessidades
da nossa comunidade. E a ‘Cidadania’ está aí sempre à nossa disposição. O nosso
sonho é ver a Rádio ‘Cidadania’ liberta para falar a todo momento que a gente
quisesse. Mas a ‘Cidadania’ para nós é uma grande rádio. A gente tem muita
vontade, que Deus ilumine, que a gente tivesse ela liberal para todo momento
que tivesse as reivindicações nossas para fazer, ela estar aberta e disponível
para nós. É isso que é a ‘Cidadania’. Você vê aqui em momentos de festas
comunitárias, festas de padroeiro, nós temos a oportunidade de ouvir a
transmissão de um lugar para o outro da ‘Cidadania’. É por isso que o sonho da
gente é ver a Cidadania permanente em nossa comunidade. Os trabalhos de festa
junina, os trabalhos comunitários, que a gente precisa de ajuda, nós somente
recorremos à ‘Cidadania’. Para nós, é uma rádio muito importante. A biblioteca
comunitária nós temos aí já através da força da ‘Cidadania’. Estamos
necessitando de mais ajuda e a ‘Cidadania’ em primeiro lugar para nós.”
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