ficção e realidade
IDEAIS...
Quintino de Quadros Vieira
Governo de Israel condena cinco jovens
por não servir o Exército
Uma corte militar israelense condenou
cinco adolescentes a um ano de prisão. Eles se recusaram a servir o Exército
por serem contra a ocupação da Cisjordânia e da faixa de Gaza pelo país. Esta é
a primeira vez desde 1980 que Israel condena opositores de consciência. (jornal
Folha de São Paulo, segunda-feira, 05
de janeiro de 2004).
O brasileiro,
naturalizado israelense, viaja à sua terra natal depois de dez anos. Não
agüenta mais ouvir explosões do conflito israelo-palestino. Anos em batalha. Nem Deus
trouxe a solução, será que “homens de bem” a trarão?, pergunta-se o jovem, que
vem ao país tropical para aproveitar o pouco tempo de descanso que tem. Afinal,
serve o exército da sua outra nação no próximo mês.
Chega ao Rio
de Janeiro. Desce do avião. Cumpre toda a burocracia do aeroporto. Enquanto
conferem o seu passaporte, observa estadunidenses recebendo uma atenção
especial. Cada um tem que deixar suas digitais e ainda ser fotografado. É a lei
da reciprocidade, garantida internacionalmente. Igualmente brasileiros são
revistados nos Estados Unidos, norte-americanos terão o mesmo tratamento.
Contudo, para
o rapaz aquilo ali o faz lembrar a Segunda Guerra Mundial, resguardadas as
devidas proporções de cada fato. Seus agora compatriotas foram duramente
castigados pelos nazistas alemães, liderados por Adolf Hitler. Eram todos
marcados com a estrela de Davi para diferenciar do puro sangue ariano.
Liberado
daquilo tudo, pega sua bagagem, toma um táxi e pede ao motorista que o leve
para conhecer logo o Cristo Redentor. Notando o sotaque carregado do cliente, o
taxista pergunta sua nacionalidade.
-
Israelense!, responde.
- Ah! Ontem,
eu li no jornal que cinco israelenses foram presos por se recusarem a servir o
exército. Eles são contrários à guerra. Achei até engraçado a expressão que o
jornal usou: “opositores de consciência”. Idéias ainda afetam este mundo
capitalizado?
Com o português
meio enferrujado, o garoto fica mais atento às palavras do taxista para
compreendê-las melhor. E o motorista continua...
- Dizem que
querer é poder, mas se poder é dinheiro, então querer não é poder. Reduziram a
vontade política à vontade econômica. Que desgraça!, esbraveja o taxista.
Espantado com
a conversa do seu guia, o adolescente pensa na volta para Israel. Como ele
queria ser apenas brasileiro...
- Mas, fiquei
feliz quando vi no jornal de hoje a foto dos cinco israelenses condenados. Todos rindo e aliviados! E eles estavam a caminho da prisão, hein? Não
vão entrar num conflito, fisicamente, é claro, estão com a consciência
tranqüila e os presídios de Israel, certamente, não são parecidos com as
penitenciárias do Brasil, ironiza.
- É... Deus escreve
certo por linhas tortas, finaliza o israelo-brasileiro.
Quintino de Quadros
Vieira é somente escritor
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