Os
cruzeirenses não deveriam se irritar quando um atleticano os chama de Maria. Não
consideramos o apelido pejorativo. O Atlético-MG sempre foi considerado nas
décadas de 1960 e 1970 o time que jogava com raça, o time de macho, que não
aceitava levar desaforo para casa. Vivíamos nessa época própria o período mais
violento da Ditadura Militar Brasileira (1964-1985) com a promulgação do Ato
Institucional Número Cinco.
O
Cruzeiro era considerado um time mais clássico, que não dava pontapés. Nessa
fase, os dois times conseguiram títulos bastante importantes para sua história.
O Atlético foi o campeão brasileiro de 1971 e revelou a alegria de Dario
Maravilha e a seriedade do técnico Telê Santana. O Cruzeiro foi campeão da Copa
Libertadores da América de 1976. Revelou Tostão, Piazza, Nelinho, Dirceu
Lopes...
Hoje
em dia o futebol todo parece ser só raça e muita violência. Os jogadores de
futebol estão mais interessados em agarrar o colega pela camisa, pelo cabelo, a
dar carrinhos inconsequentes, pontapés em partes íntimas do que tratar bem a
bola como se ela fosse uma Maria. A tecnologia no futebol e no esporte de um
modo geral tira a espontaneidade da ação humana. Estamos vigiados 24 horas.
Treinamos em academias e não mais no campo de várzea.
O
futebol arte foi triturado pelo futebol de resultados e sem vontade de vencer
de verdade. Tornamo-nos todos profissionais do esporte. Somos técnicos e
especialistas em praticamente todos os assuntos. Contudo, na hora principal,
comportamo-nos como um simples mortal massificado no meio da multidão. O
futebol feminino continua marginalizado e as jogadoras ficam mais
masculinizadas no exercício desse ofício.
A
marca do machismo é tão profundo no Brasil e no mundo que, quando um atleticano
chama de Maria um cruzeirense, esse responde de acordo com a Lei da Física (para
cada ação, uma reação com força e peso iguais) e conforme a Lei de Talião (olho
por olho, dente por dente). Para todo cruzeirense, todo atleticano é franga,
gaylo.
Mas
já imaginaram se, no dia 27 de setembro de 2017, a torcida cruzeirense lotasse
o Estádio Governador Golpista Magalhães Pinto para assistir à final da Copa do
Brasil contra o Flamengo e cantasse em coro a célebre música do cruzeirense
Milton Nascimento?
POR Milton
Nascimento
Maria, Maria
É um dom, uma
certa magia
Uma força que
nos alerta
Uma mulher que
merece
Viver e amar
Como outra
qualquer
Do planeta
Maria, Maria
É o som, é a
cor, é o suor
É a dose mais
forte e lenta
De uma gente que
ri
Quando deve
chorar
E não vive,
apenas aguenta
Mas é preciso
ter força
É preciso ter
raça
É preciso ter
gana sempre
Quem traz no
corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e
a alegria
Mas é preciso
ter manha
É preciso ter
graça
É preciso ter
sonho sempre
Quem traz na
pele essa marca
Possui a
estranha mania
De ter fé na
vida
Mas é preciso
ter força
É preciso ter
raça
É preciso ter
gana sempre
Quem traz no
corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e
a alegria
Mas é preciso
ter manha
É preciso ter
graça
É preciso ter
sonho sempre
Quem traz na
pele essa marca
Possui a
estranha mania
De ter fé na
vida
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!!
Lá Lá Lá
Lerererê Lerererê
Lá Lá Lá
Lerererê Lerererê
Hei! Hei! Hei!
Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah!
Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei!
Lá Lá Lá
Lerererê Lerererê!
Lá Lá Lá
Lerererê Lerererê!
Mas é preciso
ter força
É preciso ter
raça
É preciso ter
gana sempre
Quem traz no
corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e
a alegria
Mas é preciso
ter manha
É preciso ter
graça
É preciso ter
sonho, sempre
Quem traz na
pele essa marca
Possui a
estranha mania
De ter fé na
vida
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!!
Lá Lá Lá
Lerererê Lerererê
Lá Lá Lá
Lerererê Lerererê
Hei! Hei! Hei!
Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah!
Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei!
Lá Lá Lá
Lerererê Lerererê!
Lá Lá Lá
Lerererê Lerererê!
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