A data seria para
celebrar o trabalhador rural, hoje tão esquecido pela sociedade contemporânea capitalizada.
Em 3013, ela conhecerá a vida do Vale do Jequitinhonha. Vida de retirante tem
aquela região. Ela sonhava alto. O trabalho a sufocava. As pressões da vida
social também. Engravidou aos 15 anos, logo depois de ser apresentada no baile
de debutante da alta sociedade. Sofreu todas as angústias da gravidez na
adolescência.
Nem possuía uma vida
concreta e já geraria outra vida nova. Era xingada pelos vizinhos por ter
manchado a imaculada vida do companheiro machista. Ao lado dela, ninguém.
Chegou ao surpreendente ato de tomar chá de boldo durante dias para abortar o
neném. Ela era fechada e de difícil convivência, vítima do intimismo social
capitalista. Ou paga, dá ou desce!!!
Ela desceu. Foi como
estivesse no inferno naquele 28 de junho de 3013. Vivia hemorragicamente até
que o feto veio a cair quando ela foi ao banheiro fazer xixi. Vida que segue.
Uma pelo esgoto. Outra: levanta a cabeça, sacode a poeira e dá a volta por
cima, mesmo que quebrada por dentro por várias raspagens de curetagem.
Ela engravida novamente
do mesmo rapaz que sonhava ter um filho. Tentava levar a gravidez adiante.
Sofre sucessivas hemorragias e dores abdominais. Mas desta vez não há boldo, infecção
urinária, nem outra enfermidade que impedirá o feto de se desenvolver, crescer
e nascer. Aos trancos e barrancos, a neném vem ao mundo no dia 28 de dezembro
de 3015, de parto normal, forte, após mais de nove meses de gestação.
A bebê deu aquele maior
grito quando saiu do útero. Foi uma explosão emocional tão grande para a mãe
que ela não aguentou e faleceu ali mesmo. Absorvia todos os absurdos criados
pela preconceituosa sociedade capitalista. Não aguentaria levar adiante a filha
recém nascida. O pai se tornou a mãe desta vez. Com um martelo e uma foice,
enterrou sua companheira. Com o mesmo martelo e a mesma foice, trabalhou para
conceder à filha uma vida digna que a mãe nunca teve.
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