O
livro “José Martí”, de Ricardo Nassif, tradução e organização de José Eduardo
de Oliveira Santos, Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010, traz
mais considerações a respeito dessa importante liderança da América, a nossa
América. Escreveu “Meu Credo Pedagógico” e “A Escola e a Sociedade” com publicações
entre 1897 e 1900. À página 30, referencia a fragmentação política que adveio
das lutas bolivarianas de educação. À página 31, indica a política
expansionista dos Estados Unidos. “Eu
vivi no interior do monstro e conheço suas entranhas”, afirmava José Martí
ao apontar para as políticas criminosas do “White anglo-saxon protestant” e “Wasp”,
enaltecendo as elites plutocráticas estadunidenses.
José
Martí participou da Conferência de Washington entre 1889 e 1890. Coincide com a
Proclamação da República Brasileira. Atenta para “Los Dormidos”: o índio mudo,
o negro marcado, o camponês marginalizado. Poucos ânimos demonstraram essas
etnias pela atuação política institucional. Prefeririam a via própria de
desenvolvimento, como o homem natural da terra que sabe unir trabalho manual e
trabalho intelectual para uma maior libertação humana.
“A
esses atores seria preciso sacudir, retirá-los do estado de letargia em que se
encontravam” (...), devolver ao concerto humano interrompido a voz americana,
que se congelou em hora triste na garganta de Netzahualcoyote e Chelam (...),
descongelar, com o calor do amor, montanhas de homens (...)”, página 33.
Aqui
já se pode perceber que, para Martí, trabalho educativo de tal envergadura -
como de resto toda atividade que se queira pedagógica -, não se esgota nos
conteúdos disciplinares, técnicos, científicos, mas estende-se no uso dos meios
e recursos didáticos e, entre estes, um dos mais importantes é o amor.
José
Julian Martí se contrapunha a Faustino Domingo Sarmiento. É urgente combater a
ciência travestida de conteúdos ideológicos, pois induzia à proposição de
hierarquizações culturais artificiais entre os povos.
Tal
posição se evidencia em texto-comentário sobre a educação nas escolas dos
Estados Unidos à pergunta: de onde e de que maneira se atinge como resultado
geral o formar crianças torpes e frias (...)? Vem do falso conceito de educação
pública! Vem de um erro essencial no sistema de educação: da falta de espírito
amoroso entre o corpo docente, vem, como todos esses males, da ideia mesquinha
da vida que é aqui a corrosão nacional.
Vemos
a todo instante crianças e adolescentes estadunidenses entrarem em cinemas,
shoppings e escolas e metralhar colegas com tiros de nenhuma misericórdia. É a
sociedade doente do meu bem estar social.
Segundo a
interpretação de Tina Garcia Muniz (2004, p. 304, apud Strik, 2008, p. 45): “O amor não tem em Martí um fundamento
psicológico, mas cosmogônico. No universo, tudo é análogo, tudo se corresponde -
a ordem da natureza, a ordem humana -, não por derivação unilateral, mas por
ter uma raiz comum no amor”, acrescenta a nota de rodapé à página 37 com
referência de Florestan Fernandes.
Como exigir que um ser humano que só exerce o trabalho manual tenha uma educação formal se ele nasceu e foi instruído para ser o operário braçal social? Mas os meios de comunicação de massa (televisão aliada agora à internet) conseguem enquadrá-lo e alijá-lo do progresso dos meios de produção capitalistas. Passa a ser mero reprodutor/reificador de relações sociais desiguais, à semelhança de todo burguês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário