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Frase

"(...) A história se repete: a primeira vez como tragédia. A segunda e outras vezes como farsa da tragédia anunciada. (...)" Karl Heinrich Marx (05/05/1818-14/03/1883)

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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Palavras do Papa no encontro pela reconciliação nacional

Palavras do Papa no encontro pela reconciliação nacional – Texto completo
No parque Las Malocas participaram vítimas da violência, paramilitares e ex-membros da guerrilha das FARC

Queridos irmãos e irmãs, a Igreja sempre estará ao lado dos que mais sofrem, pois ela nasceu do sangue derramado de Jesus na cruz apos sofrer muito tanto no corpo como no espirito através da traição de um dos apóstolos, da negação de Pedro, do martírio injusto e da crueldade dos homens que queriam manter o status quo de poder e injustiça daquela época. Hoje Jesus sofre todas as vezes que um cristão é perseguido, martirizado e morto por pessoas que não querem que a paz reine entre os povos. Nós devemos ser embaixadores da paz, do amor, da concórdia, da misericórdia e do perdão. Que os nos gestos de mãos estendidas para aqueles que promovem a violência e ódio afim de que os corações sejam transformado em amor e ajuda aos que precisam. Que o amor de maria nos ajude a seguir os passos de Jesus e que possamos ser os seus pés, seus braços e mãos para todos sem distinção. (Bacharel em Teologia Jose Benedito Schumann Cunha)

(ZENIT – Roma, 8 Sept. 2017).- Un dos momentos principais da viagem do papa Francisco a Colombia, foi o Grande encontro de oração pela reconciliação nacional, no parque Las Malocas e do qual participaram minorias indígenas, vítimas da violência, ex membros da guerrilha FARC, vítimas da violência e paramilitares.

O Sucessor de Pedro recordou que Colombia é uma terra regada com o sangue de milhares de vítimas inocentes e a dor angustiante dos seus familiares e conhecidos. Feridas que custam a cicatrizar e que nos fazem sofrer a todos.

Depois dos quatro testemunhos sobre violencia feita o recibida,  Francisco leu um discurso, fez uma oração e deu uma bênção final.

Texto completo das palavras do Santo Padre

«Queridos irmãos e irmãs!

Desejei, desde o primeiro dia, que chegasse este momento do nosso encontro. Trazeis no vosso coração e na vossa carne as marcas da história viva e recente do vosso povo, sulcada por acontecimentos trágicos, mas cheia também de gestos heróicos de grande humanidade e de alto valor espiritual de fé e esperança.

Venho aqui com respeito e bem ciente de me encontrar, como Moisés, pisando uma terra sagrada (cf. Ex 3, 5). Uma terra regada com o sangue de milhares de vítimas inocentes e a dor angustiante dos seus familiares e conhecidos. Feridas que custam a cicatrizar e que nos fazem sofrer a todos, porque cada ato de violência cometido contra um ser humano é uma ferida na carne da humanidade; cada morte violenta «diminui-nos» como pessoas.

Estou aqui não tanto para falar, mas para estar perto de vós e fixar-vos nos olhos, para vos escutar e abrir o meu coração ao vosso testemunho de vida e fé. E, se mo permitis, desejaria também abraçarvos e chorar convosco, queria que rezássemos juntos e nos perdoássemos – também eu devo pedir perdão – e que assim, todos juntos, pudéssemos olhar em frente e avançar com fé e esperança.

Reunimo-nos aos pés do Crucificado de Bojayá, que, no dia 2 de maio de 2002, presenciou e sofreu o massacre de dezenas de pessoas refugiadas na sua igreja. Esta imagem possui um forte valor simbólico e espiritual. Ao fixá-la, contemplamos não só o que aconteceu naquele dia, mas também tanto sofrimento, tanta morte, tantas vidas destroçadas e tanto sangue derramado na Colômbia nos últimos decénios.

Ver Cristo assim, mutilado e ferido, interpela-nos. Não tem braços e o seu corpo já não está inteiro, mas conserva o seu rosto e, com ele, olha-nos e ama-nos. Cristo partido e amputado, para nós, ainda é «mais Cristo», porque mostra-nos uma vez mais que Ele veio para sofrer pelo seu povo e com o seu povo, e também para nos ensinar que o ódio não tem a última palavra, que o amor é mais forte do que a morte e a violência. Ensina-nos a transformar o sofrimento em fonte de vida e ressurreição, para que, unidos a Ele e com Ele, aprendamos a força do perdão, a grandeza do amor.

Agradeço a estes nossos irmãos que quiseram, em nome de muitos outros, compartilhar o seu testemunho. Como nos faz bem ouvir as histórias deles! Deixam-me comovido. São histórias de sofrimento e amargura, mas também, e sobretudo, histórias de amor e perdão, que nos falam de vida e esperança, de não deixar que o ódio, a vingança e a dor se apoderem do nosso coração.

O oráculo final do Salmo 85 – «O amor e a fidelidade vão encontrar-se. Vão beijar-se a justiça e a paz» (v. 11) – aparece depois da ação de graças e da súplica onde se pede a Deus: Renovai-nos! Obrigado, Senhor, pelo testemunho daqueles que infligiram dor e pedem perdão; daqueles que sofreram injustamente e perdoam. Isto é possível com a vossa ajuda e a vossa presença. Isto já é um sinal enorme de que quereis reconstruir a paz e a concórdia nesta terra colombiana.

Pastora Mira, disseste-lo muito bem: Queres colocar todo o sofrimento, teu e o de milhares de vítimas, aos pés de Jesus Crucificado, para que se una ao d’Ele e, assim, se transforme em bênção e capacidade de perdão para romper o ciclo de violência que imperou na Colômbia.

Tens razão: a violência gera mais violência, o ódio mais ódio, e a morte mais morte. Temos de quebrar esta corrente que aparece como inelutável, e isto é possível apenas com o perdão e a reconciliação. Tu, querida Pastora, e muitos outros como tu demonstraram que é possível. Sim, com a ajuda de Cristo vivo no meio da comunidade, é possível vencer o ódio, é possível vencer a morte, é possível começar de novo e dar vida a uma Colômbia nova.

Obrigado, Pastora! Como é grande o bem que hoje nos fazes a todos com o testemunho da tua vida. Foi o Crucificado de Bojayá que te deu a força de perdoar e amar, e te ajudou a ver, na camisa que a tua filha Sandra Paula deu de prenda ao teu filho Jorge Aníbal, não só a recordação das suas mortes, mas também a esperança de que a paz triunfe definitivamente na Colômbia.

Comoveu-nos também o que disse Luz Dary no seu testemunho: as feridas do coração são mais profundas e difíceis de sanar do que as do corpo. É mesmo assim. E – o que é mais importante – deste-te conta de que não se pode viver no rancor, de que o amor liberta e constrói. E deste modo começaste a curar também as feridas doutras vítimas, a reconstruir a sua dignidade. O facto de saíres de ti mesma enriqueceu-te, ajudou-te a olhar em frente, a encontrar paz e serenidade e um motivo para continuar a caminhar. Agradeço-te a muleta que me ofereces.

Embora permaneçam ainda sequelas físicas das tuas feridas, o teu caminhar espiritual é desimpedido e firme, porque pensas nos outros e queres ajudá-los. Esta tua muleta é símbolo doutra muleta mais importante, de que todos nós precisamos: o amor e o perdão. Com o teu amor e o teu perdão, estás a ajudar muitas pessoas a caminhar na vida. Obrigado!

Desejo agradecer também o eloquente testemunho de Deisy e Juan Carlos. Fizeram-nos compreender que no fim de contas, duma forma ou doutra, todos somos vítimas, inocentes ou culpados, mas todos vítimas. Todos irmanados naquela perda de humanidade que a violência e a morte comportam. Disse-o claramente Deisy: compreendeste que tu própria foste uma vítima e precisavas que te fosse concedida uma oportunidade.

Começaste a estudar, e agora trabalhas para ajudar as vítimas e para que os jovens não caiam nas malhas da violência e da droga. Há esperança também para quem fez o mal; nem tudo está perdido. É verdade que, na regeneração moral e espiritual dos verdugos, tem que se cumprir a justiça. Como disse Deisy, deve-se contribuir positivamente para sanar a sociedade que foi lacerada pela violência. É difícil aceitar a mudança daqueles que fizeram apelo à violência cruel para promover os seus fins, proteger tráficos ilícitos e enriquecer-se ou por acreditar, ilusoriamente, que estavam a defender a vida dos seus irmãos.

É certamente um desafio para cada um de nós confiar que possam dar um passo em frente aqueles que infligiram sofrimento a comunidades inteiras e a todo o país. É claro que, neste campo enorme que é a Colômbia, ainda há espaço para o joio… Estai atentos aos frutos! Cuidai do trigo e não percais a paz por causa do joio. O semeador, quando vê desabrochar o joio no meio do trigo, não tem reações alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, embora aparentemente sejam imperfeitos ou defeituosos (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 24). Mesmo se perdurarem conflitos, violência ou sentimentos de vingança, não impeçamos que a justiça e a misericórdia se unam num abraço que assuma a história de sofrimento da Colômbia. Curemos aquele sofrimento e acolhamos todo o ser humano que cometeu delitos, reconhece-os, arrepende-se e compromete-se a reparar, contribuindo para a construção duma ordem nova onde brilhem a justiça e a paz.

Como Juan Carlos deixou vislumbrar no seu testemunho, em todo este processo – longo, difícil mas rico de esperança de reconciliação – é indispensável também assumir a verdade. É um desafio grande, mas necessário. A verdade é uma companheira inseparável da justiça e da misericórdia. Se, por um lado, são essenciais, juntas, para construir a paz, por outro, cada uma delas impede que as restantes sejam adulteradas e se transformem em instrumentos de vingança contra quem é mais frágil.

De facto, a verdade não deve levar à vingança, mas antes à reconciliação e ao perdão. A verdade é contar às famílias dilaceradas pela dor o que aconteceu aos seus parentes desaparecidos. A verdade é confessar o que aconteceu aos menores recrutados pelos agentes de violência. A verdade é reconhecer o sofrimento das mulheres vítimas de violência e de abusos. Por fim queria, como irmão e como pai, dizer: Colômbia, abre o teu coração de povo de Deus e deixa-te reconciliar. Não tenhas medo da verdade nem da justiça.

Queridos colombianos, não tenhais medo de pedir e oferecer o perdão. Não oponhais resistência à reconciliação que vos faz aproximar uns dos outros, reencontrar-vos como irmãos e superar as inimizades. É hora de sanar feridas, lançar pontes, limar diferenças. É hora de apagar os ódios, renunciar às vinganças e abrir-se à convivência baseada na justiça, na verdade e na criação duma autêntica cultura do encontro fraterno. Oxalá possamos habitar em harmonia e fraternidade, como o Senhor quer.

Peçamos para ser construtores de paz; que, onde houver ódio e ressentimento, possamos colocar amor e misericórdia (cf. Oração atribuída a São Francisco de Assis)!

Quero depor todas estas intenções diante da imagem do Crucificado, o Cristo negro de Bojayá: Ó Cristo negro de Bojayá, que nos lembrais a vossa paixão e morte; juntamente com os vossos braços e pés arrancaram-Vos os vossos filhos que em Vós procuravam refúgio.

Ó Cristo negro de Bojayá, que nos olhais com ternura e com rosto sereno; que o vosso coração palpite também para nos acolher no vosso amor. Ó Cristo negro de Bojayá, fazei que nos comprometamos a restaurar o vosso corpo. Que sejamos os vossos pés para ir ao encontro do irmão necessitado; os vossos braços para abraçar quem perdeu a sua dignidade; as vossas mãos para abençoar e consolar quem chora na solidão. Fazei que sejamos testemunhas do vosso amor e da vossa misericórdia infinita.

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