Marcos Heleno
Leoni Pena, superintendente do Incra de Minas Gerais
“No Norte de Minas,
há um número grande de acampados, famílias que estão aguardando serem
assentadas. Nós conseguimos algumas áreas que já houve o assentamento. Penso
que já concretizamos, mais ou menos, depois, nesses dois anos que estamos à
frente o Incra, acredito que pelo menos oito áreas já foram resolvidas, mas têm
muitas pendências ainda. São as áreas que não foram viabilizadas porque têm
vários tipos de empreendimentos, como é o caso da Guiné que tem um problema de
exploração mineraria, tem o caso dessa Covanca que deu como inapta para fins de
reforma agrária e o pessoal não se conforma com esse diagnóstico, com esse
laudo, é possível recorrer. E, lamentavelmente, a velocidade dos processos da
reforma agrária não acompanha aquela demanda pela terra. Então, nós temos assim
a lentidão dos processos. A ansiedade é muito justa, é muito grande, porque
ficar debaixo de lona é desagradável e, por outro lado, a justiça tem sido
muito rigorosa para fazer cumprir os mandados de reintegração de posse. E a
polícia, por sua vez, tem que cumprir, é obrigada a cumprir e acaba criando um
clima de tensão. Então, lamentavelmente, o Norte de Minas está, vamos dizer
assim, com a maior concentração de luta pela terra no estado.”
Alvimar Ribeiro
dos Santos, coordenador arquidiocesano da CPT
“A maioria das
áreas já receberam decreto para reforma agrária, como a Sanharó, mas a Norte
América está pendente, a Rocinha que tem quase 100 famílias, também está
pendente. Segundo informa Marcos Heleno, é de que a Rocinha foi para decreto
agora no dia 16. A
Americana, segundo ele, que tem 30 famílias, há outro assentamento com 76
famílias, e há possibilidade de incorporá-los mais cinco famílias de uma área
devoluta, o parcelamento. Ele colocou essa possibilidade. Esse despejo, que
aconteceu hoje, propomos para que se faça um outro laudo com a possibilidade da
compra da área que fica em
Campo Azul. E a área que foi dos maristas lá no Jaíba. O
pessoal também pede o parcelamento. Ele fala que vai encaminhar. E outras áreas
pedem vistorias, que o movimento agrário reivindica. Os movimentos presentes
aqui são o movimento sindical, movimento da Liga Camponesa, o MST e alguns
grupos que não estão ligados a nenhum desses movimentos.”
Laurice Ferreira
Silva, presidente de umas das associações comunitárias da Fazenda Rocinha, no
município de Olhos D’Água
“A Fazenda Rocinha
é uma acampamento já de seis anos. Vai fazer seis anos que essa área foi
ocupada. Para que ela fosse ocupada, primeiro foi feito um trabalho de pesquisa
para avaliar a situação e a condição. Como havia muitos posseiros, em torno 17
posseiros que viviam reprimidos, não podiam trabalhar para tirar o sustento,
então houve a idéia da Pastoral e do Sindicato de estar ocupando essa área com
mais pessoas para favorecer a vida dos posseiros que lá se encontrava. Aí então
houve a ocupação por pessoas de várias regiões para a partir daí a gente
batalhar pela desapropriação. Foi feita a vistoria em 1999 e ficou determinado
que essa área é improdutiva e isso significa que a terra não cumpre sua função
social e por isso é ideal para reforma agrária. Então, de lá para cá, entra
superintendente, sai superintendente, entra governo, sai governo, e até então
não aconteceu a desapropriação. Então, diante dessa reunião hoje com o doutor
Marcos Heleno, ficamos sabendo que no dia 16 de fevereiro a área já foi enviada
para decreto. Então, a gente tem agora a esperança de que realmente isso
aconteça, que aconteça a desapropriação, porque lá nós temos em torno de 90 a 97 famílias que vivem em
condições precárias. São trabalhadores, trabalhadoras, crianças, mas que
realmente não têm a condição de sobrevivência devido à morosidade do governo,
do sistema que acaba prejudicando muito a vida da gente. Então, a partir de
agora, a gente vai estar contando com essa desapropriação para facilitar a vida
dessas 90 famílias procurar viver da melhor forma possível, produzindo. Temos
escola lá dentro. Mas nada vindo do Incra, nada vindo de ninguém. Luta nossa.
Batalha nossa. Com isso, nós conseguimos colocar escola de 1ª a 4ª série, temos
transporte escolar, mas porque? Porque os trabalhadores e trabalhadoras
provaram que são trabalhadores e que não estão para brincar. Eles estão lá
buscando uma melhor forma de sobrevivência para evitar que fiquem debaixo da
ponte, dos viadutos ou que seus filhos acabem crescendo, evolvendo-se com
tantas e tantas coisas desagradáveis que tem na cidade, onde as pessoas de
pouco recurso e pouca cultura acabam se deixando levar e sendo muito
prejudicadas. Então, a partir de agora, a gente conta e espera e vai continuar
a cobrança, continuar a batalha com a Pastoral da Terra, com o sindicato, com
todos aqueles que possam contribuir com a gente para que essa desapropriação
aconteça. Não quer dizer que acontecendo a desapropriação, acaba o problema da
família. Pelo contrário. Aí a luta continua só que de uma forma diferente,
porque a reforma agrária, que eu conheço, está voltada para a sobrevivência,
para tirar o sustendo da terra e não ser um explorador da terra, onde a terra
dá tudo de si e não recebe nada em troca. Então , é uma reforma agrária voltada
exatamente para as questões também ambientais, de preservação do solo. É esse o
nosso interesse, o nosso ideal. Por isso, a luta continua.”
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