Sobre doentes e sadios
Natelson Alves Coutinho*
Durante muito tempo, na história
do Povo de Deus, acreditou-se que poderiam ficar enfermos os que tinham vivido
uma vida libertina e os que estariam pagando por determinados erros cometidos
no passado. A doença era uma maldição enviada por Deus aos que eram ou que
foram injustos. Aos poucos, o Senhor foi interferindo nesse pensamento
preconceituoso daqueles que se achavam os únicos admirados aos olhos de Deus.
Eram os Fariseus ou Saduceus que se colocavam como uma raça mais evoluída e
iluminada.
Ainda no Antigo Testamento, temos
o testemunho do justo inocente Jó, que é submetido a provações. Mesmo falido,
doente, arrasado e criticado pelos amigos, não aceita blasfemar o Santo Nome de
Deus por causa da sua dor. E todo esse período de angústia e sofrimento serve
para o enriquecimento de Jó na sua fé, reconhecendo em Javé a infinita
transcendência da justiça e santidade.
Com a vinda do Filho do Homem,
temos, portanto, a “hora e a vez” dos sofridos e doentes tanto de alma como de
corpo. Todos os mitos que haviam a respeito de doentes e sadios foram
desfeitos. O enfermo agora não é visto mais como sendo um sujo, amaldiçoado,
“ou outra coisa do mesmo gênero”, por causa da doença. Por sua vez, os sadios
não usam mais a saúde como garantia de se sentirem melhores para Deus do que os
doentes.
Jesus Cristo, com sua morte e
ressurreição, iluminou literalmente todos os nossos problemas, levando-nos à
compreensão das diversas fases de nossa vida, possibilitando ainda a recompensa
em seu reino aqueles seres humanos que perseveram no seu amor, não importando a
difícil situação em que nos encontramos. É com base nesses ensinamentos de
Jesus que os nossos sacerdotes e religiosas se fundamentam para encarar os
problemas causados pelas doenças às quais temos exemplos em nossa Arquidiocese.
Não podemos aceitar que nossos
corpos, quando saudáveis, transformem-se em meros instrumentos de prazer sem
nenhuma utilidade para a promoção humana, como é proposto por muitos setores da
mídia. Devemos nos tornar mecanismos de assistência e consolação dos aflitos.
Fala-se muito no Bom Samaritano.
“Mas não é à toa” que ele deve
ser sempre lembrado por nós como sendo aquele que devemos procurar imitá-lo.
Percamos, pois, o receio de cuidar dos doentes. Eles nos ensinam muito. Jamais
me esquecerei do que aprendi ao cuidar de um Tio que tinha câncer. Oremos pelos
enfermos, em especial, pelos nossos padres e religiosos. “Se esquecermos dos
doentes, somos nós os verdadeiros doentes e alienados” da sociedade brasileira.
*do
Seminário Propedêutico São Pio X da Arquidiocese de Montes Claros
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