Memória de Saluzinho é resgatada no Seminário do 23º Grito
dos Excluídos
A
memória da liderança operária e camponesa Alvimar Ribeiro dos Santos (falecido
em 19 de agosto de 2016) e do camponês bravo e resistente Salu Gomes Ferreira (Saluzinho)
foi lembrada no Seminário do 23º Grito dos Excluídos. No Período Ditatorial Brasileiro
(1964-1985), o Estado Republicano Democrático de Direito distribuía terras a
quem lhe era conveniente, sem antes observar se não havia gente nas terras rurais
devolutas (de propriedade pública).
Saluzinho
foi uma das vítimas dessa sociedade repressora. O Estado doou terras para o
dono de jornal, Oswaldo Antunes. A partir daí começa a emboscada estatal a um
simples trabalhador rural. Saluzinho permanece 10 dias em uma gruta a se
defender da polícia armada. A percepção do jornalista Felipe Gabrich sobre esse
personagem histórico chega a constranger qualquer pessoa. “Eu quase morro de raiva pela versão que me contaram e pela verdade que
eu encontrei nele”.
O
Saluzinho é um belo exemplo de luta pela vida no Norte Sertanejo de Minas
Gerais. “Falava do que sentia sem
levantar as vistas para o interlocutor, talvez com medo de agredi-lo com a
pureza e sinceridade do olhar”, descreve Felipe Gabrich o trabalhador rural
no artigo “Saluzinho, o mito (ou quando se é eterno sem querer)”, publicado no
“Jornal do Norte” (extinto), de Montes Claros, nos dias 17 e 18 de fevereiro de
1990, a propósito do falecimento do Salu Ferreira. O artigo foi reproduzido no
livro “Saluzinho, luta e martírio de um bravo, a sociologia dos conflitos
agrários no Brasil”, de Leonardo Álvares da Silva Campos, Editora D’Plácido:
2014, BH.
Mais de 40 entidades
participaram do Seminário do 23º Grito dos Excluídos: Centro de Referência,
Apoio e Defesa da Cidadania (Cerradania), Pastoral do Batismo, Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs), Pastoral Carcerária, Sindicato dos Trabalhadores da
Saúde, Sindicato das Instituições Beneficentes, Religiosas e
Filantrópicas, Pastoral da Criança, Via Campesina, Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais
(SJPMG), Pastoral do Menor, Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes),
Sindicato dos Metalúrgicos de Montes Claros, Sindicato dos Professores de Minas
Gerais (Sinpro-MG), Levante Popular da Juventude, Conselho Nacional do Laicato (CNLB)
do Brasil, Colégio Marista São José, Sindicato dos Servidores Municipais, Central
dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Escola Estadual Monsenhor Gustavo, Escola
Municipal Mestra Fininha, Diretório dos Estudantes de Montes Claros (Demc),
Movimento Correnteza da Unimontes, Movimento Brasil Livre (MBL), Movimento dos
Trabalhadores Desempregados (MTD), Frente Brasil Popular, Cáritas Arquidiocesana
de Montes Claros, além de muitos eletricitários, educadores ativos e
aposentados, assistentes sociais e vereadores.
“Unir nossas forças para que a gente possa dar uma
resposta ao que vem acontecendo em nosso país”. A motivação veio da
assistente social formada pelas Faculdades Santo Agostinho (Fadisa), animadora
de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e liderança do Setor Social da
Arquidiocese de Montes Claros, Sônia Gomes de Oliveira, no sábado, 02 de
setembro de 2017, quando foi aberto o Seminário dos Movimentos Sociais do 23º Grito
dos Excluídos sob o mote “Vida em primeiro lugar: por direitos e democracia, a
luta é todo dia”, com mística verdadeira e sem a pornografia política
partidária contemporânea. Localizada no Bairro Operário-Cultural Morrinhos, a
sub-sede do Regional Norte do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de
Minas Gerais (Sind-UTE) acolheu a formação.
O Seminário discutiu
todos os eixos propostos pela coordenação nacional do Grito dos Excluídos:
saúde, educação, previdência, terra, trabalho, moradia, água, mídia e
violência, em uma mesa constituída por integrantes do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Sind-UTE, Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Levante Popular da Juventude e
Pastoral da Terra.
O Sind-UTE advertiu para
a situação catastrófica das escolas e hospitais ao citar as podadoras de vida
Propostas de Emenda Constitucional (PEC) 241, travestida depois para PEC 55. O
corte em investimentos públicos provocou o terrorismo na saúde pública: atendimento
a muita gente nos corredores hospitalares por causa da falta de leitos. A
estagnação do crescimento populacional no Brasil e o envelhecimento da população
trazem a exigência de um tratamento de saúde mais eficiente e digno.
A reforma do ensino médio
orienta para uma ação que as escolas já estão antenadas há tempos: o
estrangeirismo na língua portuguesa. O inglês e o espanhol passam a ser conteúdos
obrigatórios na grade escolar, institucionalizando a influência estadunidense e
europeia no Brasil. O governo quer que as universidades públicas voltem a
cobrar mensalidades dos estudantes. É um retrocesso. Uma volta ao início do
século. A exigência de cursos técnicos profissionalizantes nas escolas traz
implícita a formação apenas de mão-de-obra barata e divide a categoria de
professores com a lei de terceirização e contratação de trabalhadores com pouca
capacitação, precários.
A ação governamental
pressiona as classes mais baixas, de menor poder aquisitivo, a um arrocho
salarial com precedentes semelhantes à época da Ditadura Civil-Militar (1964-1985).
O milagre econômico foi às custas da geração de mais pobreza no país. A seleção
brasileira de futebol masculina é sempre utilizada para seduzir massificamente
a alienante nação para um amor abstrato à pátria que maltrata e subjuga sua
maior fonte de riqueza: seus operários.
“A Taça do Mundo é Nossa/Com
Brasileiro/Não Há Quem Possa/Eh Eita Esquadrão de Ouro”. O estribilho do hino
da Copa do Mundo de 1970 bem que poderia ser substituído para: “A Copa do Mundo é Fossa/Com
Estrangeiro/Não Há Quem Possa/Eh Eita Batalhão de Choro/Levou de Sete/Perdeu o
Tesouro”, uma referência à estrondosa goleada e passeio astronômico que o
Brasil levou no Estádio Governador Golpista Magalhães Pinto da Alemanha: 1 a 7.
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade”. Baseados no Artigo 5º
da Constituição Brasileira de 1988, as lideranças comunitárias foram esclarecidas
de que o intuito do governo federal (2010-2018) com as reformas é reduzir com o
que se gasta com a previdência pública. Os movimentos sociais, mais uma vez alicerçados
na CF 1988, reivindicaram que o direito à previdência garante o acesso à
cidadania contra o olhar financista governista, contra a noção de que a
previdência é fonte de despesas e não garantia de direitos. O governo federal
pretende privatizar a previdência pública.
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